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sábado, 25 de fevereiro de 2012

O GOVERNO E O LIVRO

O Plano Editorial chegou ao fim no momento em que determinou o primeiro governo Alberto Silva; incentivando as letras e o conhecimento da história do Piauí com umas quarenta obras publicadas. A administração seguinte ignorou o salutar projeto. O governador Dirceu Arcoverde teve início já em inimizade com o anterior e a praxe sempre foi de o sucesso ignorar as virtudes do sucedido. O chefe do Executivo fixou esforços noutras áreas, publicando-se poucos livros. Lembro-me das edições da história da independência no Piauí, do padre Joaquim Chaves, de um livro de poesias de Isabel Vilhena e de um de filosofia de Antônio Veríssimo de Castro. Se houve outros, a memória não me acode.

Lucídio Portella, governador seguinte, concedeu valioso apoio ao livro piauiense e para tanto contou com os bons serviços de Paulo Henrique de Araújo na direção da Companhia Editora do Piauí.

Chegaria a vez de Hugo Napoleão, com arrojado Projeto Petrônio Portella, que se equiparou ao Plano editorial de Alberto Silva. O governante contou com a inteligência e o esforço de equipe trabalhadora e decidida. Obras de criteriosa escolha foram entregues ao público. Prestei os humildes e gratuitos serviços que me atribuíram, inclusive organizando a reedição comentada do romance UM MANICACA, de Abdias Neves.

A partir de Leônidas Melo, com algumas exceções, por causa de prementes dificuldades financeiras, os governos cumpriram, uns mais, outros menos, o dever para com as letras. Muito se tem publicado sobre história, crítica, poesia, estudos sociais, geografia, ficção. Alguns livros piauienses se estenderam a outros Estados.

O Piauí viveu em grande atraso anos a fio. No tempo da independência ao menos escola pública havia. Criaram-se educandários que nunca funcionavam.

Afastado dos meios comunicativos com o Brasil e o mundo, podia-se dizer que o Piauí representava um vazio, um território imenso sem habitantes, e o pânico, pelo medo que os poucos que o habitavam tinham da indiada, das forças da natureza e dos bichos da selva. O Piauí atravessou as fases literárias do Brasil sem que delas participasse. Os primeiros poetas, o herói da independência Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco e Ovídio Saraiva, que chegou a escrever a primeira letra do Hino Nacional, são simples imitadores de clássicos portugueses. Tardio o romantismo piauiense. Quase ninguém no realismo senão os poetas parnasianos e o naturalista Abdias Neves, retratista da pecadora Teresina do fim do século XIX. A Teresina de boatos, de intrigas, de bacharelismo, do anticlericalismo da rapaziada vinda do Recife. Não se pode esquecer Da Costa e Silva, que tanto tocou o coração piauiense. O admirável Martins Napoleão, em depoimento a Herculano Moraes, se disse um neoclássico. O modernismo chegou tarde. Os novos fizeram muita cousa, e ainda aguardam que o Piauí apercebido das suas responsabilidades, enfrente as dificuldades que são grandes, na falta de mercado ledor, por razões de pobreza, a triste postura dos que podem ler e não lêem, mas exoneram o livro das suas preocupações.

Infelizmente no segundo governo Alberto Silva o Projeto Petrônio Portella praticamente foi extinto, em virtude das deficiências financeiras do Estado.


A. Tito Filho, 25/01/1991, Jornal O Dia

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