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segunda-feira, 30 de abril de 2012

COMENTÁRIO

O presidente George Washington costumava dizer que não existem nações amigas, mas nações interessadas na exploração de outras. Pura verdade. Em 1929 os Estados Unidos estiveram em espantoso sufoco financeiro. Houve a quebra da chamada bolsa. O CRAQUE. Faliram os bancos. Desemprego em massa. Miséria por toda parte. O jeito estava em buscar riquezas alheias. Sabia-se que o Brasil queria derribar um presidente, em 1930, e substituir as oligarquias. Os norte-americanos não tinham alimento mas tinham armas. Fácil foi apoiar a rebelião dos militares e de Getúlio Vargas, apear Washington Luís do poder e criar o QUINTAL brasileiro. Dominaram o país. A propaganda cinematográfica do automóvel, do turismo, da roupa feita, da viagem de turismo, da cozinha eletrificada, do uísque para as coronárias, dos enlatados, das festinhas, dos concursos de misses, dos cassinos luxuosos. Iniciou-se o império da gasolina e dos estradões asfaltados. O transporte barato do trem desapareceu. Passou-se ao ônibus bonitão e poluidor. Liquidou-se a navegação de cabotagem, tão útil e tão módica no transporte de mercadorias. O governo Dutra adquiriu todo o estoque de ioiôs da produção estadunidense, gastando imensas reservas cambiais. Dava gosto ver nossas crianças e adolescentes na prática desse besteirol da matéria plástica que nos sugou riquezas sem conta. Nossas caboclinhas aprenderam a mostrar os bumbuns nas espertezas dos desfiles de beleza. Juscelino incentivou a criação de um empresariado ganancioso e malvado. A produção em massa de automóvel afastou das cidades o popularíssimo bonde, barato e de agradável andança. E provocou loucura na classe média, na professorinha de pouca renda, que compra o carro e não pode comprar o sustento do combustível. Instituiu-se a civilização do elevador de fabricação norte-americana e o Rio, São Paulo, Belo Horizonte se transformaram em selvas de pedra, com as respectivas tragédias do pobre homem brasileiro.

A tragédia nacional pode ser observada nos programas televisivos. Violência, perversidade, megalópoles de problemas mil, fome, moradias desumanas, escola falida, cárceres entupidos e perversos, dia-a-dia de angústias e desesperanças.

Que funciona neste país? A jogatina oficial, a que brevemente se incorporarão os cassinos. Loto, loteca, sena, raspadinha, bicho. Desde que acorde até que dorme vive o brasileiro da sua fezinha, contribuindo para a POBREZINHA Caixa Econômica Federal, que cobre juros legais quando empresta os seus trilhões. O país vive de roubalheiras, de fraudes, de peculatos, de maracutaias. Ministros, desembargadores, altos funcionários têm dinheiro à tripa forra, enquanto 90% dos patrícios são obrigados a uma existência mais miserável do que os felás egípcios.

Sucedeu-se [sic] os governos e sempre e cada vez mais o país afunda no fosso da podridão moral. Vinte anos houve de uma ditadura criminosa que realizou muito no terreno da castração de direitos e na execução capital dos adversários. Depois dela, o povo, nas urnas, elegem o presidente Fernando Collor, com graves e grandes promessas de recuperar o país e socorrer os pobres diabos. Brevemente o governo atual, a 15 de setembro, completará um ano e meio no comando administrativo e nada se viu senão um regime inflacionário sem tampa e sem fundo, como penico de português, e a intensificação dos maiores e menores problemas do país, que, por força dos norte-americanos, trocam a sua riqueza agropecuária e agrícola por uma industrialização sem mercado interno e externo.

Ilegalmente, tomaram-se os depósitos dos brasileiros e nada se conseguiu. O país continua à matroca, sem governo sério e sem jeito de solução das suas mínimas dificuldades.


A. Tito Filho, 20/08/1991, Jornal O Dia, p. 4

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