Quer ler este este em PDF?

sexta-feira, 13 de abril de 2012

LOUVAÇÃO

A cidade alcançou progresso em todos os setores. Antes de tudo tranqüila e afetiva. Vale um beijo quente de fraternidade. Manhãs e tardes coloridas. Corações alegres. Gente que gosta da humanidade, recitando o poema da convivência irmã. As suas noites são de amor. Nos bancos das pracinhas de encanto, pares agarradinhos, arrulhando afeto, cheirando-se, mordendo, polícia distante, gente que passa fazendo que não vê. Juca Chaves disse no Rio de Janeiro: "Se peito fosse buzina, ninguém dormia em Teresina".

As mulheres teresinenses são as mais carinhosas destes brasis. E criaram a linguagem dos olhos para a revelação do sublime sentimento do amor. Elas têm olhos de querer e de não-querer.

Vem brasileiro, irmão de outras paisagens, TERESINAR, um verbo doce, expressivo, que se reza com carinho. O centro é uma festa permanente. Da praça Rio Branco, coração comercial da cidade, parte-se para o Parque da Bandeira, bem cuidado, convite ao descanso. Além o rio Parnaíba, o velho monge de barbas brancas alongando... Junto às margens, lavadeiras batendo roupa, alguma de seios à mostra. Num dos lados do Parque, o antigo Palácio da Justiça. Antes, sede do Poder Executivo e residência dos presidentes da província e governadores até que foi adquirido o Palácio de Karnak.

Partinho do Parnaíba, o Mercado Velho ou Central, construído há mais de cem anos. Aí de tudo se vende: carnes, peixes, verduras, frutas, sandálias, calças, lamparinas, panelas, louça, mezinhas, beberagens eróticas como a famosa catuaba, pós mágicos. Camelôs propagam cura-tudo, literatura de cordel, alguns cegos recitam lamurientos versos de arrecadar esmolas. E dezenas de restaurantes ao ar livre, com comida feita sob as vistas do freguês, servem os mais variados pratos, sempre apimentados: fritos, sarapatel, buchada, panelada, mão-de-vaca, vísceras. Um arremedo dos mercadões de Fortaleza e Salvador. Um colorido especial à vida da cidade. No mercadão a gente encontra o sujeito que vende maconha, o bicheiro anunciando o milhar do jacaré e as mulatas mais desconfiadas do mundo, cheirando a brilhantina flor do amor. E muito chá-de-burro, o talentoso mucunzá.

A Casa Anísio Brito merece visitação. Museu e Arquivo do estado, guarda muita preciosidade que precisa de ser vista e consultada.

Da praça Rio Branco - rumorejo matutino e vespertino de morenões, louras, casadas, solteiras, intituladas, brotos, coroas e matronas circunspectas, senhores sisudos, estudantes, tipos de variegado naipe, muitos machos no exercício da paqueração - daí o sujeito pode indagar e orientar-se no rumo de outro ponto de muita fofoca e aprazimento: a praça Pedro II, antiga Aquibadã, bonita como quê.

Ergue-se nesse recanto de recreio o Teatro 4 de Setembro, inaugurado quase no fim do século passado. Em 1975, ganhou fatiota nova, uma beleza de teatro, com galerias, salas de exposições - só vendo o chiquismo da mui leal casa de espetáculos, coisa que não se vê em muito derredor de Brasil. Nele Coelho Neto dançou, em 1899, e discursou para apelidar Teresina de cidade-verde.

Mais umas passadas e eis Carnaque, também Karnak, nome egípcio, antiga residência de barão e baronesa. Branquinho, harmonioso, cheio de fontes d'água, luzes, salas caprichadas, local de trabalho do governador. De noite, tudo acesso, parece de conto de fadas.

Ao lado de Carnaque, existe o lugar que antigamente se chamou Alto da Jurubeba, elevação em que um santo, frei Serafim de Catânia, constituiu e inaugurou, no século passado, imponente templo católico.

Por trás da igreja, o avenidão espaçoso, que tem o nome do frade - espaçoso e comprido até alcançar o rio Poti. Avenidão de trânsito intenso. Pedestre nele come fogo para a travessia. Veículos feios e bonitos, de variado formato, transitam. Ciclista como praga. De noite, um quadro de tentação: as garotas apresentam-se para o amor, que começa no automóvel e se acaba nos castelos dentro das matas. Um paraíso de afeto.

Na frei Serafim, o Palácio Arquiepiscopal, residência de três arcebispos virtuosos e trabalhadores, - o inesquecível Dom Severino, o Cardeal Dom Avelar e o atual Dom José Falcão.

Por perto, a Biblioteca Cromwell Carvalho, bem organizada, bem rica de boas obras.

E acolhedores templos protestantes em vários pontos. E os pastores convocando para as belezas da Bíblia.


A. Tito Filho, 06/08/1991, Jornal O Dia, p. 4

Nenhum comentário:

Postar um comentário