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terça-feira, 17 de abril de 2012

POMBAIS

José Eduardo Pereira, inteligente e culto, jornalista arguto e atualizado, tratou, nesta página, faz dois ou três dias, dos conjuntos habitacionais de Teresina, e trouxe à baila angustiantes problemas relacionados com a cidade. Um sobre quem administra a capital do Piauí, o outro a respeito das casinholas que uma multimilionária companhia de habitação constrói para auferir lucros inacreditáveis à custa da perversidade com os pobres. Parece que se trata de órgão de banqueiros nacionais ou financiadoras internacionais. Não sei.

No começo do século um bom governador fez o abastecimento dágua canalizada de Teresina, e outro, Miguel Rosa, inaugurou a luz elétrica, conquistas que ainda hoje permanecem com o Estado. A raquítica rede de esgotos de algumas ruas centrais foi obra estadual.

No caso da construção de obras, os governadores bem que poderiam efetuar as derribadas dos prédios antigos, mas submeter as novas construções a rigorosa obediência de normas urbanísticas, e assim também relativamente às modificações nas cousas públicas.

Veio abaixo o prédio em que se abrigam várias repartições e no lugar se quis levantar o centro administrativo do Piauí.  O esqueleto monumental, por falta de dinheiro, foi vendido, e no lugar se encontra o espigão do Ministério da Fazenda, quebrando-se o alinhamento da rua Rui Barbosa. Liquidou-se a praça Pedro II, tão bonita, de muitas recordações espirituais, e no lugar se estabeleceu grande concentração de prostitutas, alcoólatras, veados, viciados em droga e pivetes. A quem cabe a nova feição? Ao governo estadual. Outro governador pôs por terra a velha penitenciária e construiu o vaidoso Verdão, depois que se inutilizou o trânsito em ruas da cidade. Antes, houve o governante que mandou construir um prédio no meio da praça Demóstenes Avelino, e o espalhafato horroroso continua lá, agora de propriedade particular, e nele, no prédio, se vendem carnes, bofes, vísceras, cabeças de porco, peixes e outros produtos, espalhando-se fedentina por todos os arredores.

São inúmeros os exemplos nocivos. Ninguém sabe quem administra a cidade. Antigamente essas práticas aberrantes constituíram crime contra o patrimônio popular.

Observe-se o caso desses conjuntos habitacionais em que residem os humildes párias de Teresina e os milhares que, vindos do interior, foge ao tristissimo quadro da zona rural e das comunidadezinhas mortas, cada vez mais pobres e sem condições de vida. Nessas centenas de casinholas, todas do mesmo jeito, se alojam famílias de cinco, seis ou mais pessoas. Com pouco tempo esses POMBAIS passam a favelas e se enriquecem de biroscas, prostibulos, freges, botecos, bocas-de-fumo e crimes. Meninas que ainda não menstruam já constituem raparigagem. Os últimos tipos residenciais receberam o nome de EMBRIÃO, constituídos de saleta, quarto e banheiro. Só. Nessas residências os casais só se relacionam sexualmente depois da última novela, quando a filharada consegue dormir. Se um menino ou menina acorda arregala os olhos na presença do espetáculo dos pais pelados.

Esses conjuntos habitacionais são feios, casas emendadas uma nas outras. Alguns felizardos ganham fortuna na venda de terrenos para que nestes se levantem esses prediozitos que ofendem a dignidade de todos os enteados de Deus, filhos da injustiça dos homens maus, os banqueiros, e dos políticos de boa fé, que apenas agravam problemas comunitários.


A. Tito Filho, 20/04/1991, Jornal O Dia, p. 4

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