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sábado, 14 de abril de 2012

TELEVISÃO

Estudiosos em geral depõem que a televisão se tornou um processo dos mais ativos para que se inquiete o homem, sobretudo o futuro homem, a criança, quando deveria ser importantíssimo meio educar as coletividades para a vida.

Há países, como a Inglaterra, em que o rádio e a televisão pertencem ao poder público, e só ao poder público. Proibi-se que a empresa privada os explore, para evitar que a força econômica pratique o endeusamento dos seus magnatas, imponha, pela propaganda, marcas de produtos industriais, evidencie idéias contrárias aos interesses gerais e deforma os aspectos mais caros do civismo nacional, como, por exemplo, a linguagem.

A TV tornou-se poderosa via de comunicação, justamente porque se utiliza do som e da imagem. Mal conduzida, leva aos lares exemplos maus e angústias, pelo noticiário que distribui de catástrofes, de violências, de atentados aos costumes. Junte-se a isso a freqüência das novelas de conteúdo passional e emocional, novelas que conseguem convocar assistentes numerosos, sobretudo de moças, que recitam os enredos novelescos com primor de pormenores, e sabem de cor os nomes reais e fictícios das personagens e dos que interpretam os respectivos papéis. A novela transformou-se em coceira nacional. Todos largam ocupações e responsabilidades no momento do capítulo seguinte. Os artistas gozam dos aplausos dos pais e obscurecem até os grandes cultores da literatura, das artes, da ciência. Não está longe o dia em que os vestibulares das universidades intrometam nos exames perguntas sobre as cenas de novelas e sobre astros e estrelas televisados.

Há, na TV brasileira, falta quase inteira de programas educativos, porque eles não rendem do ponto de vista comercial. Aqui e ali surge uma explicação de caráter educacional, ainda assim por métodos nem sempre aconselháveis.

Examinar problemas de modo simples, revelar o mundo nas suas paisagens físicas e sociais, analisar as conquistas artísticas e científicas para o progresso das coletividades - eis como pode a televisão conscientizar o povo, a fim de que compreenda o instante que se vive e saiba conduzir-se por através desse entendimento.

Divulgar, mas divulgar para educar, assim funcionariam os televisores no grande e grave papel de transmitir idéias e difundir lições.

Televisão vale cultura, sabendo-se que a cultura de uma gente está na sua própria maneira de viver. Cultura compreende vestuário, hábitos alimentares, religiosidade, manifestações espirituais, o colégio, o clube, a civilização em mudança, a linguagem e a história - e por intermédio desses tipos culturais se diz que o corpo social se encontra doente ou sadio.

Mostrando os costumes das coletividades, combatendo tabus e preconceitos, ministrando ensino literário e cientifico - televisão desempenha o grande papel de promover a higiene da sociedade.


A. Tito Filho, 21/06/1991, Jornal O Dia, p. 4

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