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quinta-feira, 5 de abril de 2012

VERDADES

Conheci Apparicio Torelly no Rio, quando na velha capital fui estudante e ele jornalista. Conheci-o de vista, como se diz, barbudão, cheio de corpo. Costumava vê-lo na extinta Galeria Cruzeiro, ponto de encontro dos mais variados tipos humanos. Adotou o pseudônimo de APORELLY e assinava deste modo as melhores crônicas humorísticas do Brasil. Gaúcho. Criou na cidade maravilhosa o famoso seminário A MANHÃ, quando passou a denominar-se BARÃO DE ITARARÉ, em homenagem à terrível batalha de Itararé, em são Paulo, ano de 1930, a batalha QUE NÃO HOUVE. O Barão foi lido e admirado. Ferino e verdadeiro. Cumpriu um destino sagrado, o de fazer que a humanidade risse e gargalhasse. Escreveu muito sobre as mulheres e nesta coluna de esquerda página transcrevo algumas verdades que o Barão assentou:

- As mulheres de certa idade não têm idade certa.

- Para as mulheres os velhos são de duas categorias: os insuportáveis e os ricos.

- Há mulheres que são como as estradas. Têm curvas perigosas.

- O homem é um animal que pensa. A mulher, um animal que pensa o contrário. O homem é uma máquina que fala. A mulher, uma máquina que dá o que falar.

- Há duas espécies de mulheres: as feias e as pintadas.

- Uma mulher atormenta-se mais com um segredo do que com uma cólica.

- Décimo de segundo é a fração de tempo necessária para uma mulher verificar que outra mulher, que acaba de lhe ser apresentada, tem olhos azuis, sapatos amarelos, colar de pérolas falsas, meias de náilon sem costura, cinto fingindo jacaré de matéria plástica e dentadura postiça.

- Quando uma mulher diz a um homem: QUERO-TE COM LOUCURA, é sempre verdade. A mulher não mente. Ela é sincera. E se diz que quer, quer mesmo. Sim, ela quer uma jóia bonita ou tirar as jóias do prego.

- A amizade entre as mulheres é apenas uma suspensão de hostilidades.

- Há homens despeitados que dizem que as mulheres não pensam. É mentira. As mulheres pensam e, muitas vezes, até com muito acerto, principalmente quando arquitetam um plano de ação para tirar dinheiro dos homens que pensam que elas não pensam.

Itararé foi uma espécie de Don Quixote nacional, malandro, generoso e gozador, dele disse Jorge Amado. Durante anos lhe esconderam a obra de crítica mordaz a uma sociedade pecaminosa e leviana, de sagazes administradores oficiais descompetentes. Não convém a verdade às ditaduras ou aos falsíssimos democratas. Reeditada nestes últimos tempos, Itararé continua atual e oportuno, como a gente sente nos seus pensamentos sobre as nossas sabidas filhas-de-eva.

Ainda me lembro de Itararé, na Galeria Cruzeiro, bonachão. Sempre alegre. Nascido em 1985, proclamava-se um HERÓI DE DOIS SÉCULOS.


A. Tito Filho, 10/05/1991, Jornal O Dia, p. 4

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