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terça-feira, 8 de maio de 2012

COSTUMES ANTIGOS

Era bom. Quando me entendi em coisas carnavalescas, ainda mascarados se apresentavam pelas ruas. Uma das características dos carnavais brasileiros do passado esteve no uso de máscaras e com esta se fazia intensa comercialização. Igualmente, as fantasias muita beleza deram aos velhos carnavais. Hoje, com elas, os foliões concorrem a prêmios geralmente concedidos pelos poderes e pelas sociedades recreativas. Constituem espetáculos de luxo e riqueza.

As músicas mais apreciadas nos carnavais antigos eram a polca, a quadrilha, a valsa, o cancã, o tango, o maxixe, substituídos pelo samba e pela marcha. Ainda em 1940 a gente cantou aquela deliciosa valsinha que diziam assim: "Antigamente uma valsa de roda/Era de fato o requinte da moda". Era bom. Alcancei, já taludo, músicas que não morrem: "Caninha Verde", "Touradas em Madri", "Jardineira", "Lourinha", "O Pirata da Perna de Pau" - que tempos alegres. Era bom. A gente cantava o samba dengoso "Helena, Helena, vem me consolar", de bonita letra.

Nunca me esqueço do Zé Pereira de outras épocas. Alguns rapazes animados, eu entre eles, numa carroça enfeitada, percorríamos a avenida Frei Serafim, que se chamava Getúlio Vargas.

Quem pode deslembrar-se do lança-perfume, e das batalhas que jovens machos e fêmeas travavam na praça Rio Branco, cinco horas da tarde? A gente procurava acertar o líquido forte da bisnaga nos seios das garotas. Era bom. Também se feriam batalhas animadas de confete. As rodelinhas se atiravam pelos foliões e folionas uns aos outros. Da mesma forma com o talco. Outra animação se promovia com a serpentina, uma fita estreita de papel colorido, enrolada sobre si mesma de disco, e que se desenrolava, quando atirada, mantendo-se uma das pontas segura. Muito usado nos folguedos de rua.

Havia os blocos, representados por conjuntos de amigos que brincavam com os mesmos trajes ou com os mesmos disfarces. Quase sempre se estabelecia muita rivalidade entre eles, em busca de premiação. Participei de blocos animadíssimos.

Quem não se recorda do corso? Cinco da tarde até sete da noite, seguiam veículos lotados de foliões dos dois sexos por determinado itinerário que as autoridades fixavam. Uma beleza de alegria dos participantes. Automóveis e caminhões, jipes e camionetes, um atrás do outro, e os ocupantes em cantoria permanente. Num desses carros, de fantasias berrantes, as raparigas da zona do meretrício. As caboclas obtinham licença da Polícia para o desfile, saias compridas, cantavam cantigas carnavalescas em moda.

Era bom o carnaval de rua. Jovens, maduros e velhos exibiam trajes engraçados, às vezes marginais. Alguns desses foliões se juntavam para a formação de pequenos blocos que desfilavam pelas vias principais de Teresina. A figura central dos tipos carnavalescos dos blocos de rua, pela adesão à folia de todos os anos e esfuziante animação, dançando e cantando, e o alfaiate Bernardo, um dos mais conhecidos dos louros frescos da cidade, assumido, saia comprida e rodada, sutiã e um bocado de colares e pulseiras. Nos dias correntes a veadagem tomou conta do carnaval de rua de Teresina.

Por fim, surgiu a escola de samba, associação popular que desfila em conjunto. Os participantes vestem ricas fantasias, e cantam e dançam. Sobre elas ainda escreveremos algumas linhas noutra edição. Carnaval de antigamente, sim, era bom.


A. Tito Filho, 09/02/1991, Jornal O Dia, p. 4

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