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segunda-feira, 21 de maio de 2012

O PIRAJÁ

Naqueles tempos antigos o teresinense viajava outras terras nos paquetes ou navios do Lóide e da ITA. tomavam a embarcação em São Luís e ganhavam o mundo, pelo Rio de Janeiro, por Belém, Manaus, Recife e na volta traziam engradados de mudas de plantas frutíferas para os pomares e chácaras, sempre denominadas QUINTAS. Uma luta possuir uma quinta. Coisa de gente bem, como se diria hoje. Mas pobre também possuía os seus cajus, as suas mangas, as suas laranjas.

Escolhia-se o local, adquiria-se o terreno e surgia a primeira dificuldade, o nome para o futuro celeiro. Um dos melhores e mais lidos cronistas de Teresina, o saboroso Joel Oliveira, escreveu que se reuniam os familiares e cada qual sugeria a denominação de sua preferência. Esteve em moda a escolha de cidades brasileiras, como Olinda, Petrópolis, Pirapora, antecedida de QUINTA: QUINTA MIRITIBA, QUINTA PORANGABA, QUINTA BELO HORIZONTE. Escolhiam-se nomes de cidades européias: Berlim, Zurich, Granada, ou localidades do Rio, a exemplo de Tijuca, Laranjeiras. Havia o batismo de terras santas, Tabaída, Botânica, Betsaida. Fixavam-se ainda denominações diversas: Rosal, Parnaso, Bela Flor, Irani. As esposas eram homenageadas, mas de outro modo, e surgiam as vilas nas residências, sempre distantes das QUINTAS. O processo vigorou durante muito tempo. Em 1933, meu pai construiu casa residencial, em que se lia, no portão de entrada, a denominação VILA EDITH, homenagem à cara-metade, minha madrasta. Pois bem. Aí pelo começo do século, ou antes, apareceu a QUINTA PIRAJÁ.

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O mundo inteiro adotou o processo de designações para os palácios oficiais. De modo geral, dizia-se PALÁCIO DO GOVERNO  a sede do executivo, lugar dos despachos e da morada do governante. Palácio dos Leões em São Luís, Palácio do Catete e Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro. Em Fortaleza, conheci o Palácio da Luz, onde decidia e residia o interventor Meneses Pimentel, hoje sede da Academia Cearense de Letras. Certa vez, em 1968, discursei no Palácio Piratini, residência oficial e sede administrativa em Porto Alegre. Foi no tempo de um congresso jornalístico de que participou o Piauí, com delegação composta de vários confrades, entre os quais Araújo Mesquita, Deoclécio Dantas, Rodrigues Filho, Vieira Chaves, Paulo José e outros. Gente boa.

Moscou, Paris, Cairo, Roma, nomeiam os seus palácios, costume velho como a serra dos cocos. Karnak, em Teresina, foi nome de chácara, a CHÁCARA DE KARNAK, denominação tomada da estranja. Tornou-se sede do executivo piauiense e residência governamental em 1926, inaugurado por Matias Olímpio. O governador Rocha Furtado residia em casa própria, também Pedro Freitas e outros. Clímaco de Almeida passou algum tempo na residência da praça João Luís, depois se fixou em Karnak. O governante Aberto Silva iniciou, no primeiro governo, o aluguel de mansões de luxo para moradia, imitado por Dirceu Arcoverde e Hugo Napoleão. Os governadores Lucídio Portella e Freitas Neto não quiseram sair da residência particular.

Gayoso e Almendra despachou algum tempo no prédio atual do Tribunal de Contas, se a memória não me deserda, antiga residência de Heitor Castelo Branco, e Alberto Silva despachava da sede do antigo Seminário diocesano. Ninguém se lembrou de denominar esse velho prédio de PALÁCIO HEITOR CASTELO BRANCO ou PALÁCIO DO SEMINÁRIO. Seria tolice refinada batizar o provisório deslocamento da sede administrativa.

Freitas Neto pretende instalar o governo em prédio de uma empresa de assistência técnica, a EMATER, no bairro ou subúrbio do PIRAJÁ, e logo os distintos proclamaram a oportunidade de denominação de PALÁCIO PIRAJÁ.

Que representa esse Pirajá, nome indígena? É nome da antiga QUINTA de fruteiras de Teresina. Nome baiano. Certamente o dono achou bonita a designação, que recorda o combate do Pirajá, na Bahia, ao tempo da luta pela independência nacional, travada a 8 de novembro de 1822. Melhor seria JENIPAPO, onde tombaram os nossos humildes heróis, em 13 de março de 1823. Mas JENIPAPO soa mal, não calha bem à sede da administração do Piauí.

Recorde-se ainda que a QUINTA PIRAJÁ, adquirida no governo do presidente Nilo Peçanha, teve nela instalada a Escola de Aprendizes e Artífices, em 1910, subordinada ao ministério da Agricultura, com oficina de ferreiro e serralheiro. Passou a chamar-se Escola Industrial. Hoje, Escola Técnica Federal.

Se Freitas Neto adotar sede provisória, devia chamar-se PALÁCIO DA ADMINISTRAÇÃO ou PALÁCIO DO GOVERNO. Se pretende fixação definitiva, calha de modo criterioso PALÁCIO 13 DE MARÇO, homenagem aos vaqueiros e agricultores que empurraram as forças militares portuguesas para o Maranhão, em 1823.

É verdade que existe o MONUMENTO DO JENIPAPO, evocativo da batalha do mesmo nome. Prestar-se-iam duas homenagens, em Campo Maior e Teresina. Que tem isso? Em São Paulo executou-se um grande conjunto escultórico, de * metros de cumprimento, 16 de largura e 10 de altura, exaltando os bandeirantes e posteriormente se deu a sede do governo paulista a denominação PALÁCIO DOS BANDEIRANTES.

Será que os baianos dariam ao seu palácio governamental o nome PALÁCIO DO JENIPAPO?. É tempo de mandar a subserviência às favas e pensar no que nos pertence.

    
A. Tito Filho, 09/05/1991, Jornal O Dia - p. 4

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* Não está visível no original

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