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sábado, 19 de maio de 2012

GENTE IMPORTANTE

Quando chegava gente importante a Teresina, era um deus-nos-acuda. Alvoroço nas camadas sociais ilustres. Terno branco, engomadíssimo, sapato engraxado, camisa limpa, gravata bonita, assim ficavam os machos. As damas botavam o melhor vestido, perfume afrancesado, pulseiras ricas. Plantavam-se todos no local do desembarque da figura esperada com ansiedade. Banda de música. Nos velhos tempos, fazia-se o cortejo, a pé, à casa da hospedagem.

No caso dos presidentes da República, os preparativos da recepção começavam dez ou mais dias antes da chegada. Assim se deu com Afonso Pena, eleito para governar o Brasil. Antes da posse, visitou o Piauí, chegando a Teresina a 14 de julho de 1906, pelas 10 horas da manhã. Recebeu homenagem estrondosa. Ao alcançar a igreja de São Benedito, penetrou o templo, ajoelhou e rezou. Seguiu para a Chácara Lavinópolis, do farmacêutico Collect Fonseca, esquina da avenida Frei Serafim, local hoje de posto de gasolina. Regressou no dia seguinte; as cinco da tarde. Dormiu uma noite só, com penico de porcelana no quarto - um penico de pinturas elegantes, que se esqueceram de guardar para o futuro museu.

Nilo Peçanha veio ao Piauí, mas já se havia despedido da presidência. Desempenhava o mandato de senador e pleiteava voltar a ela... Pronunciou conferência no Teatro 4 de Setembro. O eleito chamava-se Epitácio Pessoa, que derrotou Nilo.

Chegaria a vez de outro grandão - agora Getúlio Vargas, diretor eminente, que veio ao Piauí a primeira vez em 1933. Viagem pelo Maranhão, atingiu Teresina por Flores, hoje Timon, depois atravessar o Parnaíba. Percorreu a rua Teodoro Pacheco até o palacete de dois andares do médico Freire de Andrade, no principio da avenida Antonino Freire, esquina da praça Pedro II, mesmo local do Palácio de Karnak - e aí se hospedou, no quarto de cima, de frente. Saudado por Martins Napoleão. Banquete em Karnak, de noite. O povo permaneceu no meio da via pública, furando a madrugada embevecido, extasiado de ter Getúlio a dormir na capital piauiense. Na qualidade de candidato à presidência da República, o grande gaúcho visitaria Teresina em 1950.

Intensas paixões partidárias distanciavam os políticos do PSD e da UDN no Piauí. Na capital a imprensa mais alimentava ódios e malquerenças. O presidente Dutra, pessedista, passou alguns momentos no aeroporto de Teresina, onde conversou com o governador (Udenista) Rocha Furtado, mas não aceitou homenagens nem quis visitar a cidade, que eleito, conhecia. Temeu que os correligionários ficassem aborrecidos.

Outros presidentes vieram até cá - Juscelino, Jânio (como candidato), Goulart, Castelo Branco, costa e Silva (candidato), Médici, Geisel, João Batista Figueiredo.

A cousa foi-se tornando corriqueira.

Ninguém mais se abala com visita presidencial.

Sarney conheceu demais a nossa Teresina.

 
A. Tito Filho, 16/05/1991, Jornal O Dia - p. 4

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