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quarta-feira, 16 de maio de 2012

LEONARDO MOTA

Nos tempos passados Teresina hospedou escritores famosos, de prestígio nacional. Quase fim do século XIX houve a visita de Coelho Neto, recebido por grande massa popular, sob aplausos e foguetório. Ofereceram-lhe baile no Teatro 4 de Setembro e o autor de TURBILHÃO dançou com meninas de muita faceirice.

Humberto de Campos esteve nesta Chapada do Corisco e visitou a Escola Modelo, uma beleza de educandário que Firmina Sobreira criou e fez funcionar às mil maravilhas. O visitante elogiou a obra educacional da mestra querida. Outra que andou de visita por Teresina se chamava Paschoal Carlos Magno, poeta e prosador de nomeada. Estava-se no ano de 1929. Dois anos antes, a Academia Piauiense de Letras recepcionava o cearense Leonardo Ferreira da Mota, afirmação de folclorista. Saudou-o, numa sessão solene realizada na Escola Normal, mestre Higino Cunha, respeitável intelectual que os piauienses aplaudiam com admiração. Orador fluente, sério, de idéias e conceitos plenos de emoções literárias, era na época o mais apreciado dos nossos homens de letras. Discursou também em homenagem a Leonardo o padre Cirilo chaves, um dos mais conhecidos oradores da história religiosa piauiense. Além da oratória sacra, cultivava ainda o discurso estético, rico de imagens emocionantes. Na mesma solenidade se ouviram bem conhecidas poesias do nosso Antônio Chaves, opulento cultor do lirismo no soneto e nos poemas telúricos. Leonardo Mota empolgou a assistência enorme, com narrativas matutas e vasto anedotário do interior nordestino, contados com graça e riqueza vocabular.

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Estudei no Liceu Cearense, de noite, curso pré-juridico. Excelentes professores. Bem me lembro de Antônio Martins Filho, que se tornaria, tempos depois, o admirável reitor da Universidade Federal do Ceará. E outros que a memória guarda com gratidão.

Era bom. Antes de tomar o bonde de Jacarecanga, a estudantada do Piauí em Fortaleza se reunia na praça do Ferreira para umas doses de palestração. Ponto de reunião de altos servidores públicos, jornalistas, escritores, gente célebre, para a troca de novidades. Nos sábados, noitinha já, íamos para o MAJESTIC, cinema que mantinha bar numa das suas áreas. Aí conheci Demócrito Rocha, fundador do jornal O POVO. Do outro lado da comprida praça, ficava A GRUTA, restaurante e local de intelectuais, para a cerveja gelada e o trago da pinga gostosa. Neste recanto, vi mais de uma vez Leonardo Mota, cujo nome se reduzia a Leota, escritor de muita fama, e estimado por todos os cearenses, que lhe conheciam a verve e o talento. Nascido à 10 de maio de 1891, faleceu em Fortaleza à 2 de janeiro de 1948.

Deixou Leota livros de encanto insuperável. Possuía grande capacidade humorística. Conferencista. Viajava sempre para recolher o material dos CAUSOS que sabia contar ajudado dos gestos, do ritmo, do sotaque.

Se vivo fosse, estaria neste próximo 10 de maio,a  comemorar o primeiro centenário de vida. Morreu novo, antes de completar 57 anos de idade. Entregou à inteligência brasileira, entre outros, "Cantadores", "Violeiros do Norte" e "Sertão Alegre", obras raras nos dias que correm.

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A família de Leonardo, o Instituto Histórico do Ceará, a Academia Cearense de Letras, a Universidade Federal do Ceará, a Associação Cearense de Imprensa, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e o Banco do nordeste do Brasil, conjuntamente, homenagearão a memória do inesquecível folclorista, que é sócio honorário da Academia Piauiense de Letras, título outorgado quando de sua visita a Teresina. A Casa de Lucídio Freitas se representará nas comemorações pelo acadêmico José Eduardo Pereira.


A. Tito Filho, 07/05/1991, Jornal O Dia - p. 4

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