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quarta-feira, 16 de maio de 2012

TRÂNSITO

Em 1941, no governo intervencional de Leônidas Melo, foi criada a Delegacia de Trânsito. Parece-me que em seguida houve reforma na polícia civil e criaram-se em Teresina três delegacias especializadas: Delegacia de Segurança e Ordem Pública, Delegacia de Investigações e Capturas e Delegacia de Trânsito e Costumes. Quando, em 1947, fui chamado a desempenhar funções policiais, coube-me a Delegacia de Trânsito e Costumes, depois desaparecida com a criação do Departamento Estadual de Trânsito.

A princípio, na cidade fundada por José Antônio Saraiva, transitavam pedestres e quadrúpedes. Havia o costume chique de passeios a cavalo pela cidade. Vigorava o sistema de carros de aluguel, puxados por animais; para casamentos, batizados, cortejos de baile e de teatro. Padre Chagas, nas suas encantadoras páginas de Teresina antiga, anota que na cidade foram surgindo, pouco a pouco, carros puxados a cavalo. Inovação gostosa. E conta que em 1874 funcionava na capital grande empresa de caleças, propriedade de Domingos Gonçalves Pombo, que atendia a chamados a qualquer hora, dia e noite. Aluguel também para visitas, missas no cemitério, serviços médicos, passeios pelo Poti.

As crianças constituíram, com os anos, o meio de condução de cargas da preferência geral. Em 1895 os seus condutores, os carroceiros, já estavam obrigados a matricular-se na intendência, que assim se chamava a prefeitura da época.

Em duas carroças puxadas por bovinos, em 1900, se transportava carne para o mercado central.

Em 1910 deu-se a proibição de carros e carroças que não estivessem matriculados na repartição competente. O primeiro caminhão destinado à coleta de lixo da cidade chegaria em 1911, adquirido pelo cidadão contratante do serviço de limpeza urbana.

Colhi em velhos jornais que os primeiros automóveis chegaram a Teresina em 1922. Consta que a iniciativa coube ao médico Manoel Francisco Afonso Ferreira. Sabe-se que os primeiros motoristas se chamavam Avelino Augusto de Carvalho, Manuel Augusto de Carvalho e José Góis.

O intendente (prefeito) Anfrísio Lobão Veras Filho, em 1925, baixou o regulamento do trânsito de veículos do município e da cidade de Teresina. Criou-se também o lugar de inspetor de veículos. O mesmo ilustre administrador mandou realizar, em 1927, exame de habilitação para motoristas e adquiriu bonde de motor em São Paulo para a limpeza da estrada de ferra ao rio Parnaíba.

Coube ao chefe de polícia interino Edgar Nogueira estabelecer ruas preferenciais na capital, bem assim proibir o tráfego de automóveis e outros carros oficiais e particulares na cidade, a fim de que se correspondesse ao esforço da grande guerra iniciada em 1939.

Os primeiros sinais luminosos na cidade se instalaram em 1952, no governo Pedro Freitas, na esquina das ruas Coelho Rodrigues e Barroso e junto ao relógio da praça Rio Branco, por iniciativa do delegado Matias Melo Filho.

Escrevo estas notas ao correr da pena, com os recursos da memória. Recorde-se que nas ruas de Teresina automóveis e caminhões passavam uns pelos outros, folgadamente, o que atesta que José Antônio Saraiva e o seu braço direito João Isidoro da Silva França estabeleceram a largura das vias públicas como se previssem o futuro do homem e da sua criatura diabólica, a máquina.

X   X   X

O trânsito de Teresina necessita de um historiador para contar-lhe a longa história, rica de episódios alegres, pitorescos e trágicos. Entre os pitorescos está aquele registrado pela pena irônica de Eurípedes de Aguiar, num artigo do jornal, em que o impenitente articulista critica o gesto do saudoso delegado Matias Melo Filho, ao colocar, no ponto central do cruzamento das ruas Coelho Rodrigues e Simplício Mendes, um bisonho policial, sobre estrado de madeira de meio metro de altura, para orientar os motoristas, que se aproximavam. Segundo o mesmo percurso ou dobrando, os guiadores tinham pouco espaço para manobrar, por causa do palanque do delegado. Eurípedes conta no seu estilo gracioso e debochativo, que o pobre guarda, em vez de controlar o trânsito, largava o estrado, de carreira apressada, a medo de ser atropelado. Matias não agüentou o segundo artigo, extinguiu o melhoramento.


A. Tito Filho, 27/02/1991, Jornal O Dia – p. 4

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