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domingo, 6 de maio de 2012

VINTE ANOS DE BATENTE

Ingressei na Academia Piauiense de Letras em 1964, ocupando a cadeira em que se tinha assentado meu pai, a de número 29. Em 1966, o presidente Simplício Mendes me fazia secretário-geral da entidade, reeleito em 1968 e 1970. Mandato de dois anos. A 2 de janeiro de 1971, Simplício não acordou.  Dormiu, a 1º de janeiro, o sono eterno. Fui o seu substituto regimental, pois a Casa de Lucídio Freitas não tinha vice-presidente. Agora inteirei vinte anos na presidência e antes de escrever sobre assuntos relembro os colegas que se despediram do mundo no correr desse longo período: Avelar Brandão Vilela, Cromwell de Carvalho, Fernando Lopes, Edison Cunha, Petrarca Sá, Moura Rego, Celso Pinheiro Filho, Cunha e Silva, Fontes Ibiapina, Martins Napoleão, Fabrício Areia Leão, Carlos Porto, Ofélio Leitão, Cristino Castelo Branco, Adelmar Rocha, Edgar nogueira, Petrônio Portella, Zenon rocha, Odylo Costa Filho, José de Abreu. L. M. Ribeiro Gonçalves, Gayoso e Almendra, Isabel Vilhena, Martins vieira, Robert de Carvalho, Luís Lopes Sobrinho, Manoel Felício Pinto, Armando Bastos, Elias Oliveira, Vidal de Freitas, Artur Passos, José Patrício Franco, Odilon Nunes, Darcy Araújo e Lilizinha Carvalho. Fora Simplício Mendes, a quem sucedi na presidência, trinta e cinco colegas faleceram no decorrer da minha administração, nestes últimos vinte anos.

Nas cadeiras 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 15, 17, 18, 19, 20, 21, 24, 25, 27, 34, 36, 37 e 40 faleceu apenas um em cada uma delas. As cadeiras 8, 14, 26, 28 e 31 perderam dois companheiros em cada qual. No meu longo tempo de presidente a Academia não teve desfalque nas cadeiras 2, 10, 12, 13, 23, 29, 30, 32, 33, 35, 38 e 39.

Caso especial o da cadeira 16. Escolhido para ocupá-la, Raimundo Zito Batista escolheu patrono o poeta e prosador Taumaturgo Sotero Vaz. Falecido Zito, a Academia escolheu substituto na pessoa do orador José Pires Rebelo, que foi intendente (prefeito) de Teresina e senador. Para o seu lugar, na respectiva vaga, escolheu-se o grande tribuno popular e biógrafo Adelmar Soares da Rocha, que teve substituto na pessoa do jurista Edgard nogueira, cuja vaga se concedeu a Petrônio Portella e depois a Zenon rocha, os intelectuais ocuparam a cadeira 16, como * pela relação de nomes ilustres acima citados. A única que guarda seis mortos na sua história. Só nos meus vinte anos de presidência me despedi de quatro - Adelmar, Edgard, Petrônio e Zenon, caracteres primorosos e enaltecedores da vida acadêmica.

Quando Petrônio, ministro da justiça, manifestou o desejo de ingressar na Casa de Lucídio Freitas, havia uma única vaga, a de Edgard Nogueira, titular da cadeira 16. Mostrei-lhe o quadro acadêmico. Petrônio espantou-se com os quatro mortos na cadeira. Supersticioso sempre. Inexistia outra vaga. Inscreveu-se. Candidato único. Morreu antes da eleição, mas os membros da Academia, em Assembléia Geral, o consistiram eleito e lhe deram posse post mortem.

Corre entre os confrades que a cadeira 16 oferece azar. Os que a alcançam vivem pouco depois do ingresso. Parece-me que o que mais viveu foi Adelmar Rocha, pois passou, após a posse, uns 21 anos como titular.

Pretendo escrever a história da Academia Piauiense de Letras, desde a primeira tentativa de uma instituição nos moldes da Academia Brasileira de Letras. Não deu certo a pretensão dos intelectuais no começo do século. Só em 1917 por inspiração de Lucídio Freitas, se fundou o sodalício, o mais antigo do Piauí, cujas lutas não se interromperam tempo algum, havendo completado, a 30 de dezembro de 1990, setenta e três anos de serviços gratuitos à coletividade.

A história da Academia será publicada por ocasião dos seus 75 anos, em dezembro de 72, se Deus quiser.

 
A. Tito Filho, 01/01/1991, Jornal, O Dia, p. 4

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* Não está visível no original. 

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