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segunda-feira, 21 de maio de 2012

FOLIA PERNICIOSA

Iniciada quinta ou sexta-feira, a folia carnavalesca continuava agitada na manhã de 4ª feira de cinzas, sobretudo em Olinda, Recife, Salvador, Rio de Janeiro. A nação inteira esteve paralisada dias seguidos, com atividades suspensas. No sábado, dia 9 de fevereiro Dom Eugenio de Araujo Sales escreveu em jornal carioca: "A cidade gasta somas consideráveis em sua decoração, pobres economizam dos seus poucos salários, durante todo o ano, para consumi-los em efêmeras extravasões de uma fugaz alegria. Quantias extraordinárias vêm de fontes duvidosas; o luxo e o desperdício chocam-se com a miséria reinante".

Participei de alegres festas carnavalescas, quarenta, cinqüenta anos passados, nas décadas de quarenta, cinqüenta. Era uma festa popular de raros excessos. Muito se brincava, sem erotismo, sem mulheres peladas, sem magotes de veados na exibição dos peitos e nádegas artificiais. Uma folia contagiante, fraterna, iniciada por volta das cinco da tarde e encerrada pelas quatro da manhã do dia seguinte.

A chamada LIBERTAÇÃO da mulher transformou a vida social. Completou-se a circunstância, no Brasil, com a TELEVISÃO e o seu criminoso PROCESSO EDUCATIVO das novelas destinadas à corrupção da família.

Poderosos interesses de uns trinta anos para cá orientam e dirigem os carnavais brasileiros, subornando indivíduos e instituições. Neles se locupletam indústrias e comércio e para tanto a publicidade faz deles exibição permanente de despudoramento e luxúria. Nos bailes em clubes fechados se passam cenas de Sodoma e Gomorra, orgias e bacanais que só uma sociedade doente admite e suporta, e um governo cúmplice as permite e garante. Dissipam-se milhões, bilhões nessas nefastas falsas brincadeiras carnavalescas.

Fraquíssimo o carnaval de Teresina neste 1991. Antigamente não havia entre nós escola de samba e o respectivo desfile. Havia blocos populares, engraçados, que acompanhavam o corso de automóveis. Com o surgimento do carnaval comercializado do Rio de Janeiro, e o aparecimento das suas luxuosas escolas, os foliões de nosso meio quiseram criá-las e também apresentá-las em grotesco e desengonçados desfiles pela avenida Frei Serafim. Logo se buscou o recurso do erário público. Seria o caos sob proteção da Prefeitura e do Estado. Mas desta vez os cofres estaduais emborcados e a negativa salutar o prefeito Heráclito não permitiram os dinheiros para o pagode. Ainda bem.

Vi cenas televisadas de bailes em clubes do Rio de Janeiro. Um deboche. Mulheres quase despidas. Uma tristeza o baile dos GEUIS, Só as mães irresponsáveis permitem a exibição de jovens sexualmente pervertidos num espetáculo em que os próprios locutores da televisão debocham das pobres vitimas, moças de vida sem esperança, a *ço de uma sexualidade anormal e angustiada. As fantasias desses jovens, riquíssimas, reclamam milhões de material e mão-de-obra. As cenas de debocharia eram provocadas por doutora no assunto, a famosa Rogéria, que machucava os ouvidos dos rapazes a cada vez que soltava piadas de mau gosto, ao defini-los.

Quanto o Brasil gastou neste carnaval? Ninguém sabe. Não se pode avaliar o que se perde em valores morais e espirituais. Em deseducação do povo, que assiste, de boca aberta, a tolices referidas nas letras das músicas e ofensas sem contar com a convivência da boa linguagem. A pornografia, corrompe e avilta, representa a principal característica do carnaval do nosso tempo, ao lado da violência à própria dignidade do ser humano.

Quanto o Brasil gasta com hospitais, médicos e medicamentos? Não se sabe. No Rio, terça-feira, os meios de comunicação anunciavam o registro de * assassinatos nos três primeiros dias da festa que o dinheiro transformou em maneira de desregramento moral.

Convocou-me a atenção, nos bailes transmitidos pela TV-Bandeirantes, a circunstância da insistência da câmera em focalizar mulheres de traseiros à mostra, num processo rebolativo monótono. Um rebolo permanente, enjoativo, fazendo crer que a mulher só possui esse degenerado modo de atrair publicidade e admiração. Os homens aguardavam os momentos da depravação sem freios, na madrugada sem-vergonha.


A. Tito Filho, 15/02/1991, Jornal O Dia - p. 4

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* Não está visível no original

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