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quinta-feira, 10 de maio de 2012

CRONISTAS

Da crônica dizia o bom dicionarista Morais que era a história escrita conforme a ordem dos tempos. O cronista desempenhava função pública, encarregado de escrever os episódios em que se envolviam os reis, as rainhas, os mancebos da corte. À narrativa dos acontecimentos, de intrigas, das valentias de cada época se dava o nome de crônica, e ainda ao noticiário dos jornais, às anotações do cotidiano.

A crônica assume também a posição de verdadeiro gênero literário, quando corresponde a concepções de natureza livre, provocadas pela observação dos fatos no dia-a-dia da vida, no passado e no presente, refletida através de um temperamento.

Também se criou a dita crônica social, que se encarrega de registrar a refinada mobilidade do soçaite, na moda, nos prazeres, nas recepções, nas alegrias, nas festocas, festinhas e festanças. É o colunismo alimentador da vaidade, das tricas e futricas de alta roda.

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Quero crer que o primeiro cronista social de Teresina tenha sido o mestre construtor João Isidoro da Silva França, que depois de lançada a pedra fundamental da igreja do Amparo, a 25 de dezembro de 1850, fez a comunicação do acontecimento ao presidente José Antônio Saraiva: "Ao depois de uma missa do senhor vigário dita no meu rancho pelas 11 horas da manhã, acompanhado de todas as autoridades da Vila e mais membros da comissão e as senhoras das principais famílias todas bem ornadas de jóias e bons vestidos e mais os principais cidadãos da Vila... e mais imensidade de povos de fora, que aqui se ajuntou... e marchou para o sítio da nova Matriz onde se achava a tropa formada...".

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No Rio de Janeiro, aí pelos anos quarenta, estava na moda o cronista social Ibrahim Sued, amado pelos homens e pelas mulheres endinheirados e infernizado por quantos o invejavam ou desmereciam suas reportagens sobre a gente fina e as respectivas futilidades.

Quando retornei ao Piauí, depois da ausência de cinco anos, aderi ao jornalismo de oposição, representado pelo jornal "O Piauí, valente no combate ao governo. Inaugurei nele, em 1948, com Milton Aguiar, o colunismo social em Teresina. O cenário sempre o mesmo, estava nos bailes matutinos aos domingos e nas festas dançantes do clube dos Diários. Ainda hoje me lembro da reportagem que recolhi na FESTA DA ROSA, que a garota Genú Aguiar promoveu na principal casa de diversões da cidade. Eu assinava as minhas crônicas com o pseudônimo de ÁUREO.

Não sei se a memória me abandona, mas no "Jornal do Piauí", em que passei a colaborar de 1951 em diante, se estampava o colunismo daquele que fez da crônica social a razão de ser do seu jornalismo, o repórter de acontecimentos ainda no batente, sempre festejado pelo elemento feminino, Paulo José.

Nesse órgão de imprensa trabalhou outro notável cronista social e que se assinava Josias C?*, recentemente entrevistado por Elvira Raulino, num das tevês teresinenses.

O extraordinário desenvolvimento da crônica social entre nós coube, segundo penso, a Elvira Raulino, que estendeu as cogitações da crônica outros elementos de reportagem, como a notícia de episódios culturais, científicos, as notas políticas de evidência, as decisões administrativas, as anotações de tudo quanto diga respeito ao interesse público, rota ou caminho que outros destacados signatários da crônica social vêm seguindo com aplausos dos que apreciam o difícil gênero.


A. Tito Filho, 11/04/1991, Jornal O Dia, p. 4

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* Não está visível no original

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